Quantas vezes você já abriu o celular pela manhã com a intenção de apenas “dar uma olhadinha” nas notícias e, sem perceber, se viu preso num vórtice infinito de manchetes, posts e vídeos?

Seja sincero: quantas vezes essa avalanche de informação realmente contribuiu para o seu crescimento intelectual, considerando que grande parte do que consumimos hoje é superficial, fragmentado e descontextualizado?

Poucas. Muito poucas. E digo mais: quase nunca.

Vivemos na era mais informada da história humana e, paradoxalmente, talvez a menos sábia. Nunca consumimos tanta informação e nunca soubemos tão pouco o que fazer com ela. Estamos constantemente conectados, absorvendo um fluxo infinito e ininterrupto de notícias, opiniões, tendências, notificações e alertas.

Tudo parece urgente. Tudo parece importante. E é exatamente por isso que nada é.

O consumo excessivo de informações não apenas distrai ou cansa, ele pode, ironicamente, nos emburrecer.

Estudos da Universidade de Stanford demonstram que pessoas expostas a um excesso de informações e multitarefas digitais têm menor capacidade de filtrar o essencial do irrelevante, comprometendo a clareza do pensamento e a tomada de decisões.

Ou seja, emburrecer. E não falo isso com leveza, mas com a profundidade necessária que o tema pede. Afinal, quanto mais saturados estamos, menos capazes ficamos de raciocinar profundamente.

Menos capazes somos de criar relações inéditas e de fazer a única coisa que realmente importa: pensar com clareza.

O Nobel de Economia Herbert Simon já havia antecipado essa crise contemporânea ao afirmar de maneira brilhante que:

“A riqueza de informação cria uma pobreza de atenção”.

Estamos afogados em um oceano de dados, mas sedentos por clareza. Somos náufragos digitais, iludidos pela promessa de que quanto mais informação temos, mais preparados estaremos para enfrentar o mundo.

Mas informação demais não nos prepara, nos paralisa.

Especialmente para nós, advogados, cujo principal instrumento é justamente a clareza de pensamento e a habilidade de filtrar o essencial do irrelevante, consumir informação excessiva é uma forma perigosa de sabotagem intelectual.

Quando nos inundamos com informações que não são diretamente relevantes, acabamos condicionando nosso cérebro a valorizar mais a quantidade do que a qualidade. É como tentar beber água num hidrante aberto: você pode até matar a sede, mas inevitavelmente vai se afogar.

Por que exatamente tanta informação nos deixa menos inteligentes?

Primeiro, porque excesso é inimigo do discernimento. O cérebro humano não foi feito para processar informações de forma massiva e indiscriminada. Evoluímos para focar intensamente em poucas informações de cada vez, filtrando com cuidado aquilo que realmente importa.

Ao tentar absorver tudo, na ânsia de não perder nada, comprometemos nosso mais valioso recurso: a atenção.

O resultado disso é uma geração de profissionais extremamente informados, porém superficialmente preparados. Estamos cercados de pessoas que sabem pouco sobre quase tudo, mas que se consideram conhecedoras profundas de tudo.

Opinando com convicção sobre política, cinema, artes e economia, sem perceberem o quão raso é seu entendimento sobre quase qualquer coisa. Sabemos as manchetes, mas desconhecemos o contexto. Temos opiniões formadas rapidamente, mas pouco embasadas.

E assim confundimos a acumulação frenética de dados com a verdadeira sabedoria.

Yuval Noah Harari, autor de “21 Lições para o Século 21”, coloca isso de forma brilhante:

“Num mundo inundado de informação irrelevante, clareza é poder.”

Quem detém clareza, detém o verdadeiro controle. Informação sem clareza é só ruído. E ruído é veneno para quem precisa pensar estrategicamente.

Outro aspecto essencial é que informação em excesso cria uma falsa sensação de segurança intelectual. A consultoria McKinsey alerta que a sobrecarga de informação não apenas reduz a produtividade, mas também leva a uma fadiga cognitiva significativa, minando a capacidade de julgamento e estratégia dos profissionais.

Acreditamos que acompanhar tudo nos prepara melhor para enfrentar os desafios do mundo. Só que essa segurança é ilusória.

Possuir informação não significa possuir sabedoria.

Sabedoria é justamente a arte de saber o que ignorar. Grandes advogados sabem disso muito bem: não é a quantidade de argumentos que determina o resultado de um julgamento, mas a capacidade de selecionar e articular apenas os melhores e mais pertinentes.

E há ainda uma consequência mais grave e profunda: a perda da criatividade.

O excesso de informação não apenas ocupa nosso tempo e atenção, mas também pode prejudicar nossa capacidade de conectar ideias de forma inovadora.

Quando nos afogamos em um mar de informações prontas, perdemos a capacidade de fazer conexões inesperadas, o verdadeiro motor da inovação.

Criatividade precisa de espaço mental, precisa de silêncio para florescer. O excesso de informação rouba esse espaço vital. Não é por acaso que muitas das nossas melhores ideias surgem quando estamos desconectados e imersos na solitude, onde nossa mente tem liberdade para navegar por caminhos inéditos.

Mas como escapar desse ciclo vicioso? Como vencer a tentação do excesso?

Primeiro, reconhecendo que menos é mais. É preciso coragem para ignorar o irrelevante e controlar o FOMO (medo de ficar de fora). É preciso ousadia para fechar as abas abertas no navegador e dizer “não” ao ruído constante das notificações.

É preciso disciplina para entender que ignorar é tão importante quanto absorver.

Segundo, resgatando a importância da reflexão. Informação precisa de tempo para amadurecer. Para ser verdadeiramente útil, ela deve ser refletida, questionada, digerida.

Um bom advogado não é aquele que sabe tudo instantaneamente, mas aquele que entende profundamente o pouco que escolhe saber.

Pense no mundo sob três perspectivas:

  1. O que sabemos que sabemos – Nossa zona de conforto, o conhecimento consolidado, as áreas em que temos segurança para agir.
  2. O que não sabemos que sabemos – O conhecimento latente, que pode ser acessado e usado em momentos estratégicos.
  3. O que nem sequer sabemos que não sabemos – O maior perigo, o que nos limita sem que possamos perceber.

Quando aprofundamos nosso conhecimento nas áreas em que já somos especialistas e conectamos essas áreas a seus fatores de influência, adquirimos uma vantagem competitiva rara.

No mercado jurídico, isso significa que os diferenciados não são os que sabem tudo superficialmente, mas os que sabem profundamente e conseguem transcender os limites do óbvio.

Seja na gestão de equipes, onde um advogado que entende não apenas de direito, mas também de liderança, comunicação e inteligência emocional se torna um gestor excepcional.

Seja conhecimento técnico, onde um especialista que compreende não apenas as leis, mas também o setor de mercado em que atua, enxerga desafios com uma lente estratégica, conectando normas jurídicas a tendências econômicas, inovações regulatórias e dinâmicas empresariais.

Ou ainda na capacidade de integrar novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, que já transforma o mercado jurídico. Quem compreende essas interconexões não apenas sobrevive, se destaca.

E, por fim, a grande lição:

A verdadeira inteligência não está na capacidade de acumular, mas na capacidade de desapegar.

Saber deixar ir o que não acrescenta. O que ocupa espaço sem propósito. O que nos distrai do essencial.

Da próxima vez que abrir seu celular ou computador e estiver prestes a mergulhar na enxurrada digital, pergunte-se:

Isso vai me deixar mais inteligente ou vai apenas me impedir de pensar?

Escolha bem.

E lembre-se: na advocacia, a vitória não está com quem tem mais informação, mas com quem sabe exatamente o que fazer com ela.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *