Se você é advogado e acredita que seu currículo ou diploma falam por si, eu tenho uma notícia não tão boa: eles podem estar falando baixo demais. Num mundo onde a excelência técnica virou commodity, a diferença entre ser um profissional competente e ser o escolhido é exatamente a história que você conta sobre si mesmo.
Na advocacia, como na vida, você pode optar por ser apenas mais uma alternativa ou tornar-se indispensável. E isso não se alcança apenas com talento jurídico. Há algo maior em jogo: sua capacidade de se posicionar claramente na mente das pessoas.
“Atuo em diversas áreas do Direito” não é versatilidade – é suicídio de marca. Em um mundo de problemas complexos, onde o direito é apenas a ponta do iceberg dos negócios, generalistas acabam esquecidos como livros em um sebo: úteis, mas raramente indispensáveis.
O segredo está no brilhantismo do nicho. Não se trata de ser apenas bom em algo, mas de ser reconhecido como a referência absoluta naquele algo. Seja aquele profissional que, ao ser mencionado, é imediatamente associado a um problema específico. Sua especialidade não pode ser um detalhe, mas uma bandeira que você carrega com orgulho e clareza.
Posicionamento é escolher com coragem o que você é e, especialmente, o que você não é. É se expor ao risco sublime da rejeição imediata, em troca do prêmio maior: ser reconhecido e lembrado exatamente pelo que você decidiu representar.
Advogados adoram precedentes. E, claro, precedentes de reputação também contam. Então aqui vai um dos mais célebres: Rui Barbosa. Conhecido por sua capacidade retórica incomparável e coragem em momentos decisivos, Rui Barbosa nunca deixou dúvidas sobre quem era e o que defendia. Seu posicionamento forte e distinto marcou época, algo que hoje precisa ser adaptado à realidade atual.
Agora, o brilho está menos em declarações grandiosas e mais em como você constrói uma reputação sólida ao redor de uma especialidade que combine profundidade com visão sistêmica.
Hoje, destacar-se significa compreender profundamente uma disciplina jurídica dentro do ecossistema específico do cliente. Não se trata apenas de dominar a técnica jurídica, mas de saber aplicá-la ao contexto de negócios de forma estratégica e transversal.
E aqui vale uma distinção crucial: muitos advogados de departamentos jurídicos, ao crescerem na carreira e assumirem posições de gerência ou direção, confundem amplitude de visão com falta de especialidade. Não é o caso.
Esses profissionais desenvolvem uma especialidade sofisticada, dominando aspectos jurídicos, operacionais e estratégicos de um único negócio específico. É uma profundidade ampla, sim, mas sempre sustentada por uma base técnica sólida e direcionada. Não é sobre saber de tudo. É sobre saber tudo sobre o negócio que você serve.
E para os advogados que atendem pessoas físicas, o princípio continua o mesmo — mas a aplicação exige ainda mais sensibilidade. Em um universo onde muitos prometem “resolver qualquer problema jurídico”, destacar-se é uma questão de intimidade com as dores específicas de um perfil de cliente.
O advogado que se posiciona para causas familiares, por exemplo, não pode parecer apenas técnico: precisa ser percebido como alguém que entende o drama humano por trás de cada processo.
O mesmo vale para quem atua com direito do consumidor, sucessões, previdenciário ou questões criminais. Em todos esses casos, o diferencial está em transformar a especialidade técnica em confiança emocional. É aí que o posicionamento faz sua mágica: quando o cliente sente que encontrou alguém que não apenas sabe o que faz — mas sabe para quem faz.
Sua marca pessoal deve caber em um tweet, mas ressoar como um manifesto. Condense sua competência única em poucas palavras memoráveis o suficiente para criar impacto imediato.
Aqui está a verdade incômoda que ninguém diz: toda marca pessoal forte repele mais do que atrai. É exatamente isso que a torna poderosa. Quanto mais claro você for sobre quem é, mais afastará quem não se conecta com sua proposta — e será intensamente desejado por aqueles que se identificam profundamente com você.
Construir uma marca pessoal memorável não é um golpe de sorte — é um ofício meticuloso, quase artesanal. Exige repetição intencional e paciência teimosa para fincar estacas na memória alheia. Não confunda consistência com monotonia. Grandes advogados sabem contar sempre a mesma história, mas de forma nova e vibrante.
Posicionamento forte também gera oportunidades naturalmente. Quando você é referência clara em algo, portas se abrem sem esforço, simplesmente por você estar sendo inconfundivelmente você mesmo. Convites para palestras, publicações e mídia espontânea surgem naturalmente. Você se torna uma fonte confiável de opinião.
Outro alerta importante: não confunda posicionamento com slogans ou frases de efeito. Um slogan é apenas uma expressão criativa, mas seu verdadeiro posicionamento deve permear suas decisões diárias, moldando consistentemente suas ações e reações.
Para você, advogado que deseja se destacar, pergunte-se com sinceridade:
- Quem você realmente ajuda?
- Qual problema você resolve melhor do que ninguém?
- Como você pode expressar essa competência com clareza, impacto e originalidade?
Construa sua resposta com autenticidade absoluta e ousadia. No mar morno da advocacia, aquele que tiver coragem de ser um pouco mais quente será inevitavelmente percebido.
Não espere pelo “momento certo” para se posicionar. O momento certo é agora. O verdadeiro risco não é ser criticado pelo que diz, mas passar despercebido por não dizer nada que marque. Escolha com intenção, comunique com clareza, viva com coerência.
O segredo da marca pessoal é rigorosamente simples, mas difícil de executar: seja absolutamente verdadeiro sobre quem você é e consistentemente interessante sobre o que faz.
Afinal, entre advogados bons e advogados irresistíveis, qual deles você acha que terá a melhor carreira?
Pense nisso.
E se quiser se aprofundar ainda mais nesse tema, eu escrevi o livro Marca Pessoal na Advocacia, onde exploro com mais detalhes como transformar sua trajetória jurídica em uma marca forte, respeitada e estrategicamente posicionada. Vale a leitura.